27 março 2011

A origem da palavra curiosidade

    Tal palavra assume matizes diversos e em alguns casos até mesmo contraditórios, desta forma, faz-se necessário estabelecer o campo semântico em que este termo se desenvolveu, bem como analisar brevemente como essa palavra foi compreendida ao longo da história.

    O vocábulo curiositas é um neologismo latino atribuído a Cícero em sua carta a Atticus (2. 12. 2). Este termo provém da raiz latina “cur” que significa por quê, desta forma em sua acepção primeira, tal palavra apresenta uma significação positiva, pois o curioso é aquele que procura saber o “porquê” das coisas. Logo em seu nascedouro a curiosidade estava ligada diretamente a motivação da mente em desejar o conhecimento. Por esta razão é muitas vezes considerada como sinônima da admiração. Entretanto, a palavra curiosidade é comumente utilizada para designar outro sentimento que apresenta efeitos opostos sobre o ato do conhecimento intelectual . Ela também é entendida como o excessivo e intemperante afã mórbido de conhecer. Assim desde a antiguidade, tanto o natural desejo de conhecer, bem como o seu excesso foi entendido pelo nome de curiosidade.

 A caixa de Pandora


 

    Na literatura grega, as conseqüências da excessiva curiosidade são claramente descritas no mito de Pandora (presente de todos - os deuses). De acordo com o relato de Hesíodo, Prometeu, irmão de Epitemeu, roubou uma centelha do fogo divino e deu aos homens o domínio deste elemento. Zeus, indignado com tal atitude, resolveu então castigar o gênero humano. Foi então que ordenou a Hefesto e Atena que criassem uma mulher. Ela deveria ser adornada com todos os dons, para depois ser oferecida como esposa a Epitemeu .
   Parecendo já temer a vingança dos deuses, Prometeu alertou a seu irmão que não aceitasse nenhum presente que fosse oferecido por eles. Entretanto, Epimeteu não levou em consideração tal conselho e por fim acabou tomando Pandora como sua esposa. Esta havia recebido de Zeus como presente de núpcias uma caixa que por nenhuma razão deveria ser aberta. Outros autores dizem que tal caixa pertencia a Epimeteu, ali ele havia guardado alguns elementos nocivos dos quais não iria fazer uso no momento.
    Entretanto, quando Hermes e Hefesto criaram Pandora, além de tê-la ornado com todos os dons, também puseram em seu coração o germe da curiosidade. Por este motivo a imprudente mulher não resistiu à tentação e, em certo dia, resolveu abrir a misteriosa caixa, foi então que dela saíram a fome e a sede, a tristeza e a morte, assim como todos os males da humanidade que rapidamente se espalharam pelo orbe. Dando-se conta do ocorrido, Pandora tentou fechar o recipiente, mas já era tarde, pois todas as desgraças já haviam saído. A única coisa que restou em seu interior foi a esperança.
   Assim os deuses se vingaram de Prometeu por haver revelado um de seus grandes segredos a humanidade, o domínio do fogo. Desta forma, pode-se concluir que os efeitos maléficos da curiosidade excessiva já eram fortemente difundidos na literatura clássica grega. 
    Ao longo dos séculos pudemos observar e verificar o avanço e posterior desenvolvimento que a humanidade alcançou em todos os seus âmbitos, graças em parte a curiosidade, pois sem questionamentos e sem a busca dos por quês das causas finais, pouco teríamos avançado em nossa jornada planetária, daí a importância de cultivar prudentemente esse sentimento dentro de nós, claro sempre sabendo onde e quando pisar, para não cometer o erro da pobre  Pandora...

2 comentários:

  1. Que maravilha de divisão do conhecimento com uma boa pitada de sabedoria!

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  2. Fiquei feliz com as explicações que ampliaram minha visão curiosa,

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